quarta-feira, 29 de abril de 2009

O mundo de Darnel



O trabalho de Marcone Darnel é uma tentativa bem sucedida de fazer com que as conquistas da Semiótica, a ciência geral dos signos, sejam aproveitadas na transposição para a tela da realidade que o envolve.

O artista procura criar seus próprios signos e reuni-los em interpretação a partir de leituras peculiares dos lugares por onde passa, das músicas que ouve, das manifestações culturais que presencia.

Há alguns signos reconhecíveis, embora transfigurados, em vista de uma abstração mais universalizadora: objetos, pessoas , animais, utensílios domésticos, instrumentos musicais, veículos, árvores, homens - amebas, partes do corpo humano, enfim, signos advindos dos lugares e culturas que os quadros representam. Naturalmente, há quem veja outras coisas, porque cada pessoa pode ler os símbolos da maneira que quiser, e Darnel não pretende chegar à abstração pura.

A Semiótica impõe-se na criação do artista. Primeiramente, ele seleciona o tema, escolhe os principais elementos que deverão compô-lo; estuda-os individualmente até chegar ao signo que mais lhe agrada; desenha um a um numa folha de papel; escolhe os que deverão fazer parte da tela; esboça-os na tela e pinta-os por fim. As cores são vibrantes.. Esta exuberância visual transmite alegria e descontração a quem contempla suas obras. A sobreposição de imagens, cores e símbolos também é utilizada, principalmente nas telas de inspiração oriental.

Mas Darnel não foi sempre um semiótico primitivista. Passou por uma fase figurativista no final dos anos 80 . No ínício dos anos 90, Darnel dá início as pesquisas na área da Semiótica, e a partir daí o mundo do esoterismo, misticismo e numerologia cede espaço a temáticas voltadas para a vida cotidiana. Chegou a viajar pela arte oriental, pesquisando signos chineses( ideogramas), além de árabes, japoneses e egípcios, agregando suas formas na criação dos seus próprios signos. Naturalmente suas pesquisas e experimentações plásticas culminaram na fase semiótica e no abstracionismo formal, sua linguagem atual.

Os signos , que antes tomavam aspecto rígido, estático, passaram a ter mais movimento e leveza. Influenciado pelas obras de Kandinski, Miró e Klee, Darnel procura estabelecer tensão entre signos de tamanhos diferentes. Deixa vazios pictóricos, permitindo leitura mais clara. Confessa que, no início da fase semiótica ,experimentava certa ansiedade para preencher a totalidade da tela; hoje, contudo, coloca o mínimo de elementos ,distribuindo os signos de forma mais circular.

É possível identificar nos signos de Darnel uma visão de mundo a partir do olhar de uma criança. Por isso, o pintor estaria sempre inventando, escolhendo, modificando e materializando símbolos, num jogo caleidoscópico, cheio de surpresas. Entretanto, ele próprio declara que as pessoas se relacionam com o mundo por meio de símbolos, buscando neles uma forma para representar o mundo real.

Daí a atração do homem pelo signo, um produto de sua própria cognição. E criar símbolos, mesmo que arbitrários, exercita, capacita, aperfeiçoa o hetero e autoconhecimento.

Por tudo isso é prazeroso os trabalhos de Marcone Darnel . Sua trajetória artística, optando pelo símbolo, adentra o âmago do homem, seu êxtase contemplativo diante do mundo que está aí para ser visto, sem outras interrogações, porque o próprio ver já é compreender.

Marleine Toledo
Professora da UNISO- Universidade de Sorocaba / SP